41.ª IKO - INTERNATIONAL KIWIFRUIT ORGANIZATION

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Associação Portuguesa de Kiwicultores

41.ª IKO - INTERNATIONAL KIWIFRUIT ORGANIZATION

A 41.ª reunião da IKO, realizou-se entre os dias 11 e 14 de setembro, em Sacramento - Califórnia (EUA).

A reunião voltou ao seu formato presencial oferecendo uma excelente oportunidade de intercâmbio e discussão sobre a cultura do kiwi. Participaram delegações da Nova Zelândia, Chile, Itália, Grécia, Espanha, Portugal, França e Califórnia (E.U.A.) e, pela primeira vez, a Africa do Sul.

Alexandra Gomes – Secretária Geral da APK, esteve em representação de Portugal e dos seus Entrepostos associados, e que apresenta aqui o resumo do evento.


Itália

As áreas de produção perderam hectares de 2020 para 2021, exceto na Calábria, em que aumentou. Ne região de Emilia-Romana a área plantada manteve-se.

Nas variedades verdes, principalmente na Hayward, o decréscimo deve-se principalmente à Moria do Kiwi ou KVD – Kiwi Vine Decline.

As exportações de 2021 não tiveram muita alteração, principalmente no mercado da União Europeia (UE). Continua a tendência de importação de kiwi da Grécia. O consumidor italiano tem vindo a aumentar os gastos com a aquisição de kiwi.

Previsão de produção para 2022: Verde 257 mil toneladas, mais 16% que na campanha anterior – nas variedades verdes continuam abaixo da capacidade máxima de produção. Relativamente às variedades amarelas está prevista um aumento na produção de 83 mil toneladas para 106 mil toneladas. Nas variedades vermelhas há um aumento de 135%, de 1.000 para 2.400 toneldas.

Está em execução uma campanha de incremento do consumo do kiwi Italiano, com fundos da UE para os mercados externos – “Enjoy it’s from Europe”.

 

Fitossanidade: as elevadas temperaturas em junho e julho aumentaram o stress nas plantas, causando a paragem na atividade fotossintética, em alguns dias não existia diferença entre a temperatura diurna e a noturna, níveis de precipitação atingiram recordes, no entanto, e mesmo com as condições adversas, estão à espera de maiores calibres que na campanha anterior.

O Percevejo Asiático expandiu-se das zonas do norte de Itália, para o sul, tendo sido observados insetos na Calábria. Estão a fazer largadas controladas de insetos. O uso de redes a isolar o pomar e a captura em massa com painéis com cola e feromonas, mostram-se os meios de combate mais eficazes de combate a esta praga.

Relativamente à PSA a situação mantém-se a mesma, sou seja, disseminada, mas controlada com os tratamentos fitossanitários e as operações culturais.

Relativamente à Moria o uso de porta enxerto mais resistentes, nomeadamente o Bounty, parece ter bons resultados. Estão otimistas quanto ao futuro controlo desta doença, pois acham ter identificado as “chaves da infeção” e os fatores que levam à Moria.

A plantação de Hayward nas zonas afetadas pela Moria, parece ter estagnado, pois os produtores estão a optar por variedades amarelas/vermelhas, por serem mais rentáveis e por a área de Hayward estar a aumentar na Europa, principalmente na Grécia.


França

Decréscimo na produção de 2021 devido a geadas, esta campanha preveem um aumento na produção, embora o calor de junho/julho também os tenha afetado.

Fitossanidade: tem problemas com Moria, tendo perdido até à data 100 hectares. Estão a fazer ensaios com produtores. Relativamente à PSA tiveram uma maior incidência da doença em 2022 e, através de um projeto financiado pelo governo, estão a fazer ensaios com microinjeção.

O Percevejo Asiático tem vindo a provocar mais estragos ao longo do período de monitorização desde 2018 a 2022. Estão a fazer ensaios com a introdução de parasitoides, nomeadamente e Trissolcus mitsukurii em avelã e, se os resultados forem bons passarão para o kiwi.


Portugal

A produção nacional de 2021, e segundo os dados do INE – Instituto Nacional de Estatística, foi de 55.461 toneladas, para a próxima campanha está prevista uma diminuição da produção, entre 10 a 20% relativamente a 2021 devido à ausência de frio invernal e ao calor excessivo de junho/julho.

Fitossanidade: A situação da PSA tem-se mantido dentro da normalidade, o inverno não foi rigoroso por isso os sintomas da doença manifestaram-se pouco.

Estamos a fazer a monitorização do Percevejo Asiático, com os Entrepostos e com Kiwicultores associados da APK, que adquiriram armadilhas para monitorização desta praga emergente.


Califórnia (E.U.A.)

A produção californiana será muito semelhante à da Campanha anterior, com cerca de 30 mil toneladas para 1700 hectares da variedade Hayward plantados. Há uma diminuição na quantidade de kiwi em Produção Biológica, devido ao aumento das outras variedades, nomeadamente amarelo e mega Kiwi (variedade Tsechelidis), mas a grande maioria da produção é de Hayward (93%), amarelo (3%), Mega (3%) e vermelho (1%).

Fitossanidade: Continuam sem problemas de PSA. O Percevejo Asiático existe há muito tempo nos EUA, mas está controlado. Uma das pragas a que estão atentos é a Mosca da Fruta, que se está a deslocar do Este para o Oeste, ao longo do caminho ferroviário (devido ao transporte de fruta através deste meio de transporte).

 

Grécia

A produção de 2021 foi de 310 mil toneladas, e nesta campanha está previsto um aumento para 355 mil toneladas, mas poderá ser um estimativa por cima, pois os calibres são menores, devido aos mesmos problemas que afetaram o resto da Europa, nomeadamente o calor excessivo em junho/julho. Tem 12.500 hectares plantados em 2020, a área de 2022 ainda não está registada e disponível, pelo que a área real plantada deverá ser superior.

A maior área de produção é a Macedónia Central, com 50% da área plantada. Na Grécia não há cultura mais rentável que o Kiwi, o que a torna muito interessante para os agricultores gregos. As exportações para a europa aumentaram nesta companha, muito devido ao conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Itália e Espanha são os principais destinos das exportações para a UE. O principal mercado fora da UE é o dos E.U.A.

A Turquia e o Irão são grandes produtores mundiais de kiwi e que oferecem preços muito mais baixos, tornando a entrada nos mercados onde estão presentes, muito difícil. O consumo de kiwi dos gregos é de cerca de 1 kg per capita.

Fitossanidade: O Percevejo Asiático já foi identificado na Grécia, mas até ao momento sem estragos no Kiwi. Está em curso um programa de monitorização do inseto.  A PSA continua contida nas regiões, mas como o inverno foi mais rigoroso houve um aumento de casos nessas regiões. A Moria não foi detetada.

 

Chile

A colheita de 2022 será de cerca de 155 mil toneladas, um decréscimo relativamente a 2021 (167 mil toneladas), pois houve renovação de pomares velhos. As geadas na primavera, o excesso de calor no verão e a escassez de água são fatores que diminuem a produtividade dos pomares e o calibre da fruta. No caso das variedades amarelas há um aumento ligeiro de 3.612 para 3.735 toneladas.

As exportações para a Europa diminuíram, principalmente devido ao prolongado período de conservação da fruta, que se tem prolongado no tempo. As exportações para a Rússia também diminuíram devido ao conflito que tem vindo a decorrer.

O kiwi é uma cultura que em muitos caso é complementar à cereja, que é das frutas com maior rentabilidade para os produtores chilenos, é uma forma de rentabilizar mão-de-obra e equipamentos quando não estão a ser usados na campanha da cereja.

Fitossanidade: O Percevejo Asiático está presente desde 2000, mas sem evolução na população, e sem estragos no kiwi. Tem-se mantido circunscrito à zona de Santiago, onde são usadas armadilhas com feromona para captura dos insetos que vêm nas mercadorias importadas, principalmente da Ásia e dos E.U.A.

A PSA provocou alguns estragos durante a primavera. Estão a adotar uma visão mais sustentável nos tratamentos, usando indutores de resistências, fungicidas bacteriológicos, bacillus antagonistas, promover a biodiversidade do solo e reduzir as aplicações de cobre.

No Chile o Verticillium gasparii, fungo endémico do solo, é um problema sério em diversas áreas agrícolas, e no kiwi também provoca estragos que devem ser controlados principalmente com operações culturais, nomeadamente a eliminação de restos de raízes contaminadas e o tratamento com tricodermas, micorrizas e bacillium.

A PSA e o Verticillum condicionaram muito as variedades que se podem plantar, devido à suscetibilidade das mesmas a estas doenças.

 

Africa do Sul

As primeiras plantações ocorreram nas décadas de 80 e 90 do século passado, com a plantação de variedade Hayward, e dos quais restam apenas 25 hectares, devido ao baixo conhecimento da cultura.

Desde 2014 que o interesse no kiwi ressurgiu, e neste momento o grande interesse é na plantação de variedades amarelas e também vermelhas como alternativa aos citrinos e uvas. Atualmente existem 390 hectares de amarelo e 20 de vermelho. A produção ainda é muito baixa, cerca de 560 toneladas em 2021 e 530 em 2022. Os maiores desafios são o tamanho da fruta (calibres pequenos), devido a más técnicas culturais e a falta de qualidade do frio/mas conservação dos entrepostos, tudo isto se resume à falta de conhecimento das técnicas culturais e da forma de conservação do kiwi, que são bastante diferentes das culturas a que estão habituados como citrinos e uvas.

 Fitossanidade. Como é uma plantação recente não tem muitas pragas ou doenças, as principais são os nematodes e algum aborto floral (que não sabem justificar a causa). No entanto o setor está a estabelecer protocolos com universidades para poder fazer uma monitorização mais atenta dos possíveis problemas do sector, sejam eles culturais como de conservação.

 

Espanha

A produção espanhola da campanha de 2021 foi de 28.654 toneladas, estando prevista uma quebra de 8% para a campanha de 2022, devido aos mesmo problemas de calor em junho/julho que afetou os restantes países da europa. A principal região produtora é a Galiza (53%) seguida das Astúrias (16%) e País Basco (8%), principalmente com a variedade Hayward. Valencia (10%) apostou nas variedades amarelas e vermelhas, assim com a Catalunha (5%), como opção aos citrinos e às frutas de caroço.

As variedades amarelas têm uma área plantada de 118 hectares com uma produção de 1000 toneladas e as vermelhas 12 hectares com produção de 45 toneladas. De salientar que as plantações são bastante recentes e ainda não estão no pleno da sua produção.

Existem planos de plantação de novas áreas, 300hectares de variedades verdes, 100 hectares de amarelo e 20 hectares de vermelho. O consumo per capita em Espanha é de 4kg.

Fitossanidade: tem problemas de Empoasca spp, principalmente junto a vinhas e de Vespa Asiática, que não ataca o kiwi, mas sim as abelhas, reduzindo a polinização. Relativamente ao Percevejo Asiático ainda não tiveram nenhuma observação.

Tem problemas de podridões radiculares como a Phytofora e a Armillaria, e de Phomopsis, que afeta as folhas e pedúnculos, causando a queda precoce da fruta.

Relativamente à PSA está altamente difundida pela Galiza, tendo sido também identificada nas Astúrias, País Basco e Navarra. Neste inverno, e como também foi menos rigoroso, os sintomas da doença pouco se manifestaram.

 

Nova Zelândia

A Nova Zelândia tem 2.843 produtores, 13.610 hectares de área plantada e uma produção de 227.400 toneladas de variedade verde, 372.200 toneladas de variedades amarelas e 400 toneladas de variedade vermelha, totalizando 599.900 toneladas. O perfil do produtor Neozelandês está acrescer, já não é a exploração do “pai e da mãe”.

Na campanha de colheita tiveram um défice de 20% na mão-de-obra necessária, o que provocou problemas na qualidade do kiwi que chegou ao continente europeu.

O acesso à água e a sustentabilidade do seu uso é, para além do acesso à mão de obra, uma das preocupações do setor. Neste momento a substância ativa do Dormex - cianamida hidrogenada - está sob avaliação por parte do governo neozelandês.

Fitossanidade: através da Kiwifruit Vine Health (organização líder em biossegurança dedicada a apoiar a indústria de kiwis da Nova Zelândia), é feita a monitorização de diversas pragas de alerta e cuja monitorização é fortemente controlada de modo a evitar a entrada/propagação da ameaça, quer por esta entidade quer pela população, através da ciência cidadã existindo inclusive uma aplicação móvel para registo de ocorrências. Das pragas/doenças que são comuns a Portugal, o Percevejo Asiático tem sido detetado em contentores recebidas dos EUA, China e Itália, enquanto a PSA está distribuída por parte da ilha Norte, estando a ilha Sul totalmente livre da doença.

 

O proximo país anfitrião será o Chile, em Setembro de 2023, até lá o grupo de trabalho fará a sua reunião intercalar na Fruit Logistica de Berlim, em Fevereiro de 2023.

 

Projeto 2020