CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÓMICA DA FILEIRA PORTUGUESA DO KIWI

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Fátima Alves, João Aldeia, João Bica, Paula Castro

Centre for Functional Ecologyda Universidade de Coimbra (CFE-UC)

CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÓMICA DA FILEIRA PORTUGUESA DO KIWI

A fileira portuguesa do kiwi tem demonstrado uma tendência de crescimento notória ao longo das últimas décadas. Entre 1988 e 2018, a área plantada e a produção nacional deste fruto aumentaram, respetivamente, de 600ha para 2736ha e de 500t para 34057t (FAOSTAT, 2020), localizando-se a maioria dos pomares de nas regiões de Entre Douro e Minho e Beira Litoral.

A Linha de Investigação Sociedades e Sustentabilidade Ambiental do CFE-UC, no âmbito Grupo Operacional i9kiwi e do projeto de investigação ReNATURE, promoveu, entre 2019 e 2020, um inquérito por questionário dirigido às empresas da fileira do kiwi (amostra por conveniência de 94 empresas), com o intuito de proceder à sua caracterização socioeconómica, ilustrar tendências na fileira e contribuir para compreender como tem evoluído e como se estrutura em Portugal.

Neste estudo, a maioria dos respondentes são associados da APK (61,7%), e a quase totalidade (90,4%) são associados de um dos entrepostos nacionais. A avaliar pela amostra, trata-se de uma população jovem (64,9% tem menos de 50 anos), com uma escolaridade elevada (60,7% completou pelo menos um grau de escolaridade no ensino superior) e maioritariamente masculina (76%).

Para muitas das empresas da amostra, a kiwicultura é uma atividade familiar, com 44% dos respondentes a indicar ter pelo menos um familiar envolvido na fileira (maioritariamente cônjuges ou pais). A grande maioria dos respondentes (proprietários) desenvolve tarefas administrativas e/ou agrícolas na exploração (86,2%), o que se compreende, em parte, pela reduzida dimensão das empresas da fileira (87,2% exploram pomares com uma dimensão inferior a 10ha e 67% exploram áreas inferiores a 5ha).

A maioria das empresas refere possuir pelo menos uma certificação comercial (67 das 94), onde se destacam a certificação GLOBALG.A.P. e a certificação de produção integrada (42 empresas em ambos os casos). Destacadamente, o cultivar fêmea mais plantado nos pomares da amostra é o cultivar “Hayward”, que está presente em 62 pomares.

Há variações significativas no que respeita ao preço médio a que as empresas venderam a sua produção em 2018, tendo indicado preços médios por kg que oscilaram, entre 0,55€ e os 2,00€, com uma média de preço de 0,87€/kg. É de salientar o facto de a kiwicultura se apresentar como uma atividade económica complementar, com 74,5% a indicar possuir outra atividade, podendo contribuir para 72,3% destes respondentes, um máximo de metade do seu rendimento anual. Em 2018, cerca de 27% das empresas indicaram não ter tido uma faturação positiva e mais de metade (52,4%) registaram uma faturação inferior ou igual a 5000€. No entanto, esta informação deve-se, em grande medida, à data recente da plantação de muitos dos pomares (a partir de 2016).

Entre os principais desafios que os respondentes identificam na sua atividade profissional destacam-se, por ordem decrescente: o controlo de doenças nos pomares; a obtenção de mão-de-obra; o preço a que vendem a sua produção; o controlo de plantas infestantes nos pomares e as dificuldades associadas a questões burocráticas no âmbito de projetos de investimento. No tocante ao controlo de doenças, a gestão do cancro bacteriano provocado pela Pseudomonas syringae pv. actinidiae (PSA) é o desafio mais referido, o que se compreende dado que, em 2018, cerca de 60% das empresas identificaram PSA nos seus pomares.

No tocante ao uso de fitofármacos, muitas das empresas da amostra indicam usá-los nos seus pomares, com destaque para herbicidas (47 empresas), bioestimulantes (41), reguladores de crescimento (34), e fungicidas (24). Cerca de 76% indicam usar pelo menos um produto à base de cobre nos seus pomares.

Muitas empresas (57,4%) indicam realizar atividades específicas de promoção da polinização dos pomares, sendo as mais referidas, por ordem decrescente: a colocação de colmeias de abelhas melíferas nos pomares; o uso de ventiladores mecânicos nos pomares; a instalação ou manutenção de infraestruturas ecológicas e a polinização assistida via seca. Uma minoria das empresas da amostra indica valorizar a presença de animais selvagens ou plantas silvestres nos seus pomares (22,3%), maioritariamente, por considerarem que a presença destes animais ou plantas contribui para o controlo de pragas (13 empresas), para a polinização (11 empresas) ou para a conservação dos solos (10 empresas).

Projeto 2020